Umbandaime



Uma mistura de Umbanda com Santo Daime une descendentes de escravos, seringueiros e adeptos do Santo Daime

Por Nelson Townes
Revista Momento Brasil


É a mais brasileira das religiões. Uma mistura de catolicismo com espiritismo, ritos africanos e misticismo dos povos da floresta Amazônica. É a Umbandaime, fusão da Umbanda dos antigos escravos negros com o Santo Daime, dos seringueiros do Acre.

Nasceu no Acre, tem adeptos se organizando em Porto Velho (Rondônia) e foi levada para a cidade de São Paulo, onde multidões de desesperançados parecem estar encontrando respostas do sobrenatural no sincretismo religioso afro-cristão-amazônico.

A nova religião está atraindo multidões de devotos para o seu templo na rua Brazópolis, 200, bairro Saúde, na Capital paulista - o Templo Sagrado Jesus de Nazaré São João Batista, próximo à estação São Judas do metrô.

A fundadora e líder espiritual da Umbandaime, é Dona Maria Natalina, que tem o título eclesiástico de Madrinha, e descende de uma estirpe de umbandistas, sendo ela própria Mãe de Santo há mais de 20 anos. Ela é filha de Pai de Santo, neta de Mãe de Santo.

Ela disse ter recebido no início de 2010 um recado de Protetora das Florestas e Rainha do Mar N.S. da Conceição,Yemanjá, quando fazia uma Miração do Santo Daime, avisando que o Dia do Juízo Final está chegando “mesmo.”

O Recado que a Madrinha da Umbandaime diz ter recebido de Iemanjá diz, em resumo que “Um Grande Estrondo se Ouvirá e será percebido por todos os seres vivos: humanos e animais irracionais”

A Umbanda é uma religião formada dentro da cultura religiosa brasileira que sincretiza elementos de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras.

O Santo Daime é uma cerimônia religiosa cristã que se caracteriza pela bebida de uma espécie de chá sacramental Ayahuasca, produzido a partir da decocção do cipó jagube ou mariri ( Banisteriopsis caapi )com as folhas do arbusto chacrona (Psychotria viridis)

A fundadora da Umbandaime é respeitada por uma congregação de pessoas de todas as classes sociais como dona de “grande sabedoria e conhecimento” e sensibilidade mediúnica.

Madrinha conheceu o Santo Daime há dez anos, no Acre, informa o site da Umbandaime (www.umbandaime.com), “quando reconheceu prontamente seu poder e sua origem divina, vindo a se fardar (ingressar ritualmente) no Céu de Maria (um templo do Santo Daime no Acre.)”

Seu principal mentor espiritual no Santo Daime foi o padrinho (título dado aos homens que se tornam líderes espirituais) Sebastião Mota de Melo, nascido no Seringal Monte Lígia em 1920, discípulo do Mestre Irineu (Raimundo Irineu Serra), fundador da confraria do Santo Daime.

O padrinho Sebastião,que faleceu em 1990, era um apóstolo do Santo Daime pois, que “recebeu do Mestre Irineu o dom de expandir o Culto do Santo Daime por todo o país e além de suas fronteiras” – diz o site da nova seita, até codifica a liturgia geral da nova seita e faz seus primeiros registros históricos.

Sebastião, o mentor da Madrinha da Umbandaime, é descrito como um místico que “desde cedo demonstrou propensão para fazer viagens astrais e ter visões dos seres encantados da floresta e foi no início de sua carreira religiosa, curador e rezador nos ermos do Vale do Juruá.”

Em 1974 mandou registrar sua entidade religiosa e filantrópica, denominada Cefluris – Centro Eclético da Fluente Luz Universal, do Acre, que existe até hoje.


Como a Umbandaime tem influência do Espiritismo, a “presença espiritual” de Sebastião Mota de Melo é citada pela durante as cerimônias que a Madrinha preside. Sebastião é lembrado como um espírita “fervoroso” que introduzia no culto do Santo Daime a doutrina espírita de Allan Kardek.

A Madrinha da Umbandaime trabalha no que ela define como “linha espiritual da Umbanda com a consagração do Santo Daime, destinado a limpeza, desobsessão, cura física e espiritual.”

Todos os sábados a partir das 16 horas, a Madrinha atende “gratuitamente” no templo paulistano da rua Brazópolis pessoas interessadas “em limpeza e desobsessão” na linha da Umbanda.

No templo se informa que além do trabalho de desobsessão, (“muito necessário nos dias de hoje”), a Madrinha da Umbandaime joga búzios, cartas, “ministra passes”, e “realiza desenvovimento mediúnico” – além dos trabalhos do Santo Daime.

Sua doutrina se baseia no princípio cristão do amor ao próximo: "Para Deus nos atender, devemos rezar e pedir para todos os nossos irmãos, e não apenas para nós”

Ela diz que na Umbandaime “não há preconceitos e julgamento, pois, dentro da luz, esta tudo dentro do poder, pode ser branco, negro, índio”.

Acrescentando que “para Deus são todos seus filhos”, destaca que “o importante é sempre ter respeito, humildade e dedicação para estar sempre ao lado dos bons espíritos, recebendo suas orientações para seguirmos em nossa vida no caminho certo, cumprir nossa missão e aprender neste mundo a viver no próximo.”

A liturgia de uma missa católica, de uma sessão de Umbanda e de uma sessão do Santo Daime se misturam nas celebrações da Umbandaime. Assim como o sacerdote católico consagra o vinho erguendo a taça, assim a Madrinha ergue uma taça com o chá sacramental do Daime diante da congregação.

O sincretismo se completa com a adoção do hinário Ponto de Gira e o uso da farda do Daime, a roupa branca. Deus é constantemente invocado em meio a cantos, pregações e orações, mas – e aqui entra a influência das sessões espíritas que consideram o que caracterizam algumas seitas cristãs.
Umbandaime, a nova religião - Gente de Opinião

Uma das recomendações é exatamente a de que “durante o trabalho do Santo Daime se mantenha muita seriedade e concentração”, “é necessário que todos zelem pelo silêncio e pela harmonia do ambiente”.

É exatamente o contrário do que algumas seitas evangélicas (e hoje até em templos católicos) fazem num momento de seus cultos que os pastores chamam de “avivamento”, quando pedem que os participantes cantem o mais alto possível – acompanhados por um baterista que mais parece um solista de jazz determinado a furar todos os tambores a sua frente.

O efeito desse barulho é de alienação, explicou certa vez um psicólogo, fazendo os participantes do culto a entrar numa espécie de transe que os torna vulneráveis, por exemplo, ao pagamento de dízimos cobrados por pastores que mercantilizam a fé.

A Umbandaime não pede dízimo mas, como a maioria, ou a totalidade das igrejas cristãs, pede também (mas, sem barulho) “uma contribuição mínima, para a manutençao e reforma do espaço e para o custeio da distribuição do Daime.”

As recomendações que a Umbandaime faz aos participantes são semelhantes as do Santo Daime faz, a começar pela exigência de pontualidade para o início do trabalho.

“Para aqueles que irão tomar o Daime pela primeira vez é imprescindível que cheguem com pelo menos uma hora de antecedência.

São três as recomendações básicas para quem quer participar de um trabalho do Santo Daime: 1 - Conduta ética coerente com o que a Doutrina prescreve em seus hinos. 2 - “Busca de uma reconciliação interna e com os irmãos, comos quais haja um desentendido”. 3 - Abstinência sexual 24hs antes e depois de cada trabalho

Outras recomendações são: Não consumir bebidas alcólicas. Não ir para o trabalho com roupas vermelhas ou pretas; as mulheres devem usar saia longa, e os homens calça comprida.

É proibido fumar cigarros durante o trabalho. Lanches, bolachas, chocolates, etc, devem ser deixados para depois.

Em Porto Velho existem vários templos de Umbanda e centros de consumo ritual da Ayahuasca,a bebida sacramental produzida a partir da decocção do cipó jagube ou mariri ( Banisteriopsis caapi )com as folhas do arbusto chacrona (Psychotria viridis) , é utilizada em Porto Velho/RO por diversas entidades como a UDV – União do Vegetal , o CECLU – Centro Eclético de Correntes da Luz Universal – Santo Daime fundado nos anos 60, a Tribu´s Di Judha, o Elixir do Novo Milênio e outras linhas independentes.

No Acre seguem o ritual da ayahuasca o Alto Santo, criado pelo mestre Raimundo Irineu Serra , o Cefluris, a Rainha do Mar e a Barquinha e outras dissidências e convergências