Colônia Cinco Mil e Céu do Mapiá



Comunidade espirituais no coração da floresta

Nesta seção apresento diversos artigos, teses, trechos de livros, matérias jornalísticas sobre a Doutrina “Santo Daime “, nesta primeira página começo recuperando o material editado na Revista Céu do Mapía – 20 anos editada em 21/ 01/2003 pelo CEFLURIS , através da coordenação editorial do Padrinho Alex Polari de Alverga e do jornalista José Augusto Lemos.

Céu do Mapiá

O Céu do mapiá é uma vila que reúne características muiito especiais fundada em Janeiro de 1983 por Sebastião Mota de Melo, o Padrinho Sebastião, às margens do igarapé Mapiá, afluente do Rio Purus. com o tempo, ao povo que seguia o padrinho desde o Rio Branco, composto principalmente de colonos, seringueiros e gente bem simples, vieram se juntar buscadores espirituais, profissionais liberais e acadêmicos dos grandes centros urbanos do Brasil e do mundo.

O motivo para que esta grande síntese espiritual, cultural e social esteja se realizzando numa vilazinha no corção da floresta amazônica deve-se ao fato de ela ter sua origem na tradição religiosa acreana do Santo Daime. Situada dentro de uma reserva florestal, a comunidade busca um modelo de visa auto-sustentável, em harmonia com a floresta.

Suas realizações nasceram da capacidade do patriarca fundador da vila, de seu filho sucessor Alfredo Gregório de melo e de um punhado de parentes amigos e colaboradores – e também do trabalho da Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal Patrono Sebastião Mota de Melo, do Instituto Ambiental Raimundo Irineu Serra (IDA/CEFLURIS), da Associação de Moradores da Vila Céu do Mapiá (AMVCM), junto com toda uma rede de instituições , ONGS e associações criadas ao longo da existência da vila . Alex Polari de Alverga

Colônia Cinco Mil – Um novo começo

Dois anos após o falecimento de Mestre Irineu, sebastião Mota de Melo acabou criando o seu próprio centro daimista, em sua residência, na periferia de Rio Branco. Conhecido como Colonia Cinco mil, o terreno não demorou a ganhar uma grande igreja de alvenaria, que por sua vez, foi ganhando a fama entre buscadores e andarilhos vindos de outras cidades do brasil, da A,mérica Latina e do resto do planeta. Muitos optavam, inclusive, por ficar morando na colônia. Foi aqui, antes de se mudar para dentro da floresta, que o Padrinho pôde colocar em prática seu ideal de uma vida comunitária. quase todos os membros da clônia aderiram ao pacto:venderam bens e pertences, assim como entregaram cabeças de gado e pequenas poupanças para um fundo de administração comum que passou a planejar as compras e o trabalho a ser desenvolvido por todos.img

A saída da cidade para a floresta

As visões do padrinho e suas lembranças de conversas com o Mestre irineu, em que este ele lhe falava que o seu destino era o Amazonas, chamavam-no para dentro da mata. para completar, ele estava cada vez mais desgostoso com o desgaste das terras da Cinco Mil para agricultura e pragas bos pastos.

Tudo isso fez com que, no final da década de 70, a Comunidade empregasse parte do que havia arrecadado com a venda de algumas colônias na compra de uma caminhão. depois de algumas pesquisas, foi escolhida uma área próxima a um ramal da estrada de Boca do Acre, já no Amazonas.

Atravessava-se o Rio Indimari para depois caminhar de três a quatro horas através da floresta densa, até chegar a um igarapé cujas areias refletiam um brilho especial, daí seu nome, Rio do ouro.

Em abril de 1980, o Padrinho e diversos companheiros iniciaram seu assentamento no rio do Ouro. o povo trabalhou duro durante mais de dois anos para levantar uma pequena vila, com quase 50 estradas de seringa e 90 mil covas de roça, num raio de cerca de 10.000 hectares,m tudo feito com serra, terçado, machado e carregado nas costas.

Porém, o Incra, que inicialmente havia autorizado a ocupação, constatou que a área pertencia a uma gleba do seringal Santa Filomena. A solução foi indicar uma nova área para a comunidade, desta vez em terras devolutas no curso do Igarapé Mapiá, afluente do rio Purus, entre os municípios de Boca do Acre e Pauini.

Explorando a região, o Padrinho chegou a ser ferrado por uma arraia ao descer numa praia do Purus.

Ainda no Rio do Ouro, antes de mudar para o Mapiá ele recebeu uma comissão chefiada por um coronel do exército, enviada pelo ministério da Justiça para inspecionar a comunidade e o uso do Daime.

Acompanhavam a comissão, desde Rio Branco, três estudiosos recém-chegados à Doutrina:

o psicólogo Paulo Roberto Silva e Sousa
o antropólogo Fernando Larocque
o escritor Alex Polari de alverga
Eles acabaram inaugurando, em seus locais de origem, entre 1982 e 83, as primeiras igrejas do santo daime fora da Amazônia: respectivamente, Rio de Janeiro, Brasília e Visconde de Mauá (RJ)

Povoado recém nascido

Em 20 de janeiro de 1983, a expedição que havia partido do rio do ouro já se encontrava arranchada no barração da Fazenda São Sebastião, na boca do Igarapé Mapiá. Enquanto Madrinha Rita e o filho Alfredo ficaram retidos nesse local por uma forte gripe, uma turma acompanhou o Padrinho Sebastião a fazer um levantamento das terras igarapé acima. O Incra havia indicado uma área mais próxima ao Purus, mas o Padrinho preferia um local mais perto das cabeceiras.

Essa primeira expedição era composta de trinta homens e quatro mulheres, em um processo de mudança bastante lento e trabalhoso. O caminhão que trazia o estoque de alimentos atolou a 30km de Boca do Acre, cujo porto no Purus, após algumas horas viajando de barco , dá acesso ao Mapiá. por causa do atoleiro, mil quilos de farinha e duzentos de açucar tiveram que ser trazidos nas costas para serem embarcados. o caminão trazia também canoas carregadas com 1.800kg de seringas em pélas, ferramentas variadas e mais mantimentos. a maior carga seguiria no batelão. Floresta, de quatro toneladas, grande e pesado demais para navegação num igarapé como mapiá – tanto que seu destino final foi servir de ponte entre as duas margens do riacho, até construírem a primeira ponte da vila.

O assentamento acabou se fixando, enfim, em um ponto que o Igarapé Mapiá se divide em dois, formando umm braço batizado de Igarapé Repartição. A expedição atracou no barranco e, à noite, já estava o primeiro acampamento, sem um momento de trégua ppor parte dos carapanãs.

O local não prometia facilidade. Pelo menos, foi essa a primeira avaliação dos mateiros Gildo, Chagas, Doca e Raimundo Donga, que voltaram de suas explorações comnotícias desanimadoras sobre a escassez de recursos naturais como seringueiras, palmeiras, frutas, caça. Mesmo assim, o Padrinho Sebastião reafirmou seu desejo de ali permanecer com aqueles que quisessem acompanhá-lo.

A inspiração do nome Céu do Mapiá veio de Pedro Mota, um dos filhos mais novos do Padrinho, que estava para abrir, um Rio de Ouro, uma colocação chamada simplesmente Céu. A moda pegou de tal forma que quase todaas as outras futuras igrejas do CEFLURIS ganharam batismo aprecido, a começar pelas três primeiras, já citadas, no Rio de Janeiro (Céu do Mar), Visconde de Mauá (Céu da montanha) e Brasília (Céu do Planalto).

Desde o começo, a vida cotidiana sempre foi intensa na noca vila. na Casa grande, como era chamada a residência do Padrinho, dormiam quase 60 pessoas. No final da tarde as redese eram recolhidas e, como num toque de mágica, o salão virava uma igreja.

Ainda sofrendo as seqüelas da ferroada de arraia, o velho Mota armava a sua rede na cozinha. ao lado da casa, ficava a oficina onde se tecia a palha para as construções e o armazém com a farinha, o feijão e outros mantimentos estocados.

Alfredo andava de um lado para o outro sempre sujo de carvão, ateando fogo às coivaras do primeiro roçado, ansiosamente esperado, visto que as provisões trazidas do rio o Ouro já escasseavam. Sei doca e seu Chagas iam e vinham da mata, trazendo alguma caça para completar o rancho. Enquanto isso, mulheres e crianças mariscavam (para os leitores não amazônicos, significa pescar no linguajar regional). Outros homens serravam uma grande árvore de cedro num estaleiro. Não havia ainda nem sinal de motoserra: tudo era feito na base do terçado e serra manual. Acionados, os mateiros em pouco tempo empicaram a madeira necessária para a construção de mais de 10 casas de moradia, a Igreja e a Casa e Feitio (ritual de preparo do Santo Daime). a galera mais jovem e bem disposta se organizava em equipes chamadas carinhosamente pela sigla GTP (Grupo de Trabalho Pesado), a quem cabia a limpeza das capoeiras grossas e o plantio da macaxeira.

O ano de 1984, em especial, foi um período de muito trabalho. Tudo funcionava comunitariamente sob a direção de Alfredo e a supervisão direta do Padrinho. Vieram as colheitas das safras de milho, arroz, feijão, que garantiam a subsistência de todos. O engenho de cana funcionava com tração humana, já que o único boi de carga, o Pretinho, veterano do engenho da Cinco Mil, era muito requisitado para o transporte de madeira para as construções.

Assim, em ritmo de mutirão permanente, a vila logo foi crescendo. É deste ano também a construção da primeira ponte: uma pingela de roxinho sobre dois âmagos de lacre, que sofreu uma reforma em 1989 e só foi aposentada em 2.002, com a inauguração da Ponte Nova. Na mesma época, começaram a erguer a igreja, bem no meio da praça, uma construção simples, com paredes de paxiúba, chão batido e conbertura de palha de caranaí, para onde os trabalhos espirituais foram transferidos depois de um curto período na casa do Alfredo.

Tudo corria muito bem até a malária, a exemploo do Rio do Ouro, chegar com toda força. quase toda a população aoeceu. Faltou remédio e o povo teve qeu sse valer de ervas e raízes locais, além do Daime é claro.

Ainda assim, a instalação do povoado se consolidou de vez entre 1984 e 1985, com a chegada dos remanescentes do rio do Ouro, que haviam ficado com o Padrinho Manoel Corrnete. de acordo com o plano traçado pelo Padrinho Sebastião, o povo foi sendo deslocado progressivamente em grupos pois o Mapiá não oferecia condições de receber todos de uma só vez. Agora, com todo o rebanho colhido, a população da vila, inicialmente de 100 pessoas já somava quase 250.