Percília Matos da Silva
Percília Matos da Silva, zeladora da obra do Mestre Irineu e gerente-geral dos hinários de sua Doutrina, começou a tomar Daime ainda muito criança. Ao ficar órfã de pai ainda menina, veio morar como filha do Mestre em sua casa. Como ela atesta, anos depois, sobre seu último momento com o grande lider “Aí eu tomei a bênção e ele fez uma recomendação como nunca tinha feito antes. Não entendi nada. Eu o vi tão alegre que não suspeitei de coisa alguma. Ele me recomendou que eu fosse muito feliz. Saí tranqüila e satisfeita. Ele era como meu pai, pois foi quem me criou”. Percília Estudou, formou-se professora e casou-se com Raimundo Gomes nos anos 40. O casamento não deu certo, e ela voltou a morar na casa do Mestre até que encontrou um novo companheiro na pessoa do Senhor Pedro.
Como responsável que foi em dar forma escrita aos hinos formadores da Doutrina, ela se tornou a gerente-geral dos hinários, e assim tinha o encargo de passar a limpo os hinos recebidos, ou seja, corrigi-los. A própria Dona Percília se auto-questionava quanto aos seus hinos, como demonstra esse trecho de entrevista de Clodomir Monteiro com ela, a respeito do hino que a apresenta como Taio Ciris Midam:
Clodomir - Este hino a senhora recebeu dentro da miração?
Percília - Dentro da miração...eu estava com uma febre neste dia!...
Clodomir - E foi uma entidade que dizia para a senhora isto?
Percília - Eu ouvi, não vi, eu ouvi a música....e quando eu dei de mim eu já estava cantando.
Clodomir - Que a sra. era realmente esta entidade...
Percília - É...Taio Ciris Midam...
Clodomir - E todos no Alto Santo reconhecem que a senhora é realmente Ciris Midam... Pedro - Pois o próprio Mestre registrou... passou a limpo o hino... seu Eu superior...
Percília - Sim, o meu Eu superior...então quer dizer que eu sou da mesma família...de Midam...né ? Clodomir - Tá ligado a outra metade dele... Percília - É...é isso aí.
Clodomir - É isso aí, um é Jura, outra é Midam, o masculino e o feminino...
Percília - Foi passado a limpo com o Mestre...
Após o falecimento do Mestre, apoiou o Padrinho Sebastião quando da criação do Cefluris, e realizou naquela igreja modificações do fardamento (gravatas azuis e sapatos brancos para a farda masculina) que antes o Mestre manifestara vontade de fazer. Três anos depois ela deixou o CEFLURIS, juntamente com Daniel Serra, Luiz Mendes e outros, que não aceitaram outras modificações rituais. Apesar de eventualmente participar, seja na igreja do Padrinho Tetéu, seja no Pronto-Socorro do Senhor Raimundo Lorêdo, nunca voltou a ocupar a condução dos trabalhos como antes. Foi em uma rara oportunidade que a presenciei na igreja do Senhor Luiz Mendes acompanhando um trabalho de 6 de julho onde o hinário do Mestre foi cantado sem bailado, integralmente (todos os hinos, mesmo os especiais), na mesma formação de filas em pé na velação do ataúde que foi feita em 1971. Ela declarava o que sabia e o que pensava com toda sua veemência.
“Ninguém pense que aprendeu. Quem quiser aprender, se dedique ao Daime. Se prepare e tome. Não vou dizer que todos possam alcançar porque "nem todos estão na graça", como diz aquele hino do Seu Sebastião Mota”.
(texto editado do site www.hinarios.blogspot.com)
A gente morava, nessa época, na Vila Ivonete - bem pertinho do Mestre. Ainda não havia um centro. Os trabalhos eram realizados na casa do Mestre com aquele grupinho. Então, ele ficou dando assistência para a gente. A minha mãe, coitada, não tinha direção, era analfabeta e não sabia mexer com dinheiro. Eu mesma é que tinha um pouco mais de conhecimento e fazia as compras de casa. Nessa época, com onze anos, já costurava. Comecei costurando apenas para mulheres, depois para todo mundo.
Ele sempre me chamou de Dona Percília, desde pequena. Um dia papai perguntou para ele: "Mas por que o senhor chama uma criança dessas de dona?" Ele respondeu: "Eu chamo para me acostumar, porque quando ela casar, eu não sei se o marido dela vai gostar se eu chamar ela de Percília."
O cargo que eu tinha, dado pelas mãos do Mestre, era de comandante-geral da ala feminina e gerente-geral do hinário. Eu regia todo hinário. Quando a ala masculina não estava muito certa eu chamava o zelador. Tudo era comigo. Até hoje esse cargo de comandante-geral está em minhas mãos.
Ele não tirou não.
Tudo que chegava lá na colônia passava por minhas mãos. O Mestre me tinha muita estima, todos os hinos que ele recebia passavam por mim. Ele dizia: "Se não está certo pode meter o terçado". Mas eu nunca fiz isso. Ele mesmo tomava Daime e ia corrigir.
Comecei a freqüentar quando meu pai conheceu o Mestre em 1934. Eu tinha oito para nove anos. Com o Mestre estavam apenas uma meia dúzia de pessoas: José das Neves, Zé Afrânio, João Pereira, o chamado Zé Capanga, Maria Damião e Germano Guilherme. Depois é que chegou o Antônio Gomes. Papai morreu três anos depois, em 1937. Eu era a mais velha de todos os meus irmãos. Duas semanas depois do falecimento de meu pai o Mestre disse que ele tinha lhe aparecido cinco vezes numa miração.
Meu pai dizia: - Mestre, eu ando, ando neste mundo de meu Deus, vejo tantas maravilhas, tanta coisa bonita que eu não esperava que existisse, mas quando me lembro do senhor, eu tento visitar o senhor.
Assim ele veio cinco vezes. Até que o Mestre perguntou: - Ribeiro, o que você deseja de mim? Pode dizer.
- Mestre, eu quero que o senhor tenha mais paciência com a minha família, do que o senhor teve comigo.
O Mestre disse:
- Tá feito! Não se preocupe, siga sua viagem. E recomendou o espírito dele.
Quando, em 1934, nós nos encontramos, o Mestre só tinha três hinos: Lua Branca, Tuperci e Ripi. Daí começou... Nesse tempo ainda não tinha farda. Depois estabeleceu-se um tipo de farda, de modelo diferente da que usamos hoje. Na farda azul das mulheres, já havia as três iniciais C.R.F - Centro da Rainha da Floresta. Isso foi criado pelo Mestre.
Em 1957, o Mestre fez uma viagem até o Maranhão, onde passou dois dias e duas noites no mar, mirando muito. Foi nessa viagem que ele recebeu o novo tipo de farda, usada até hoje. Os homens usavam as fitinhas coloridas que as mulheres ainda usam e uma rosa grande. O distintivo era aquela rosa. Depois foi que ele mudou para a estrela de seis pontas.
Mestre permaneceu na Vila Ivonete até 1945, quando fundou o Alto Santo e abriu a colônia. O grupo inicial do Mestre estava com ele tanto nos roçados como nos trabalhos espirituais, em tudo.
O Mestre foi um exemplo dentro do Acre, de Rio Branco, o primeiro líder que existiu aqui. Nessa comunidade que ele fundou, o Alto Santo, ele era juiz, era delegado, conselheiro, era tudo e todos obedeciam a ele. Podia estar como estivesse, ele chamava "vem cá fulano" e prontamente ficavam todos mansinhos que era uma beleza. As autoridades não se preocupavam com aquele povo, até casos de fora ele resolvia. Ele era uma entidade divina mesmo. Porque só Deus, para ter a força que ele tinha e tem. Hoje ele tem muito mais força que naquele tempo.
E mesmo com toda aquela autoridade, ele era a pessoa mais calma do mundo. Não levantava a voz com ninguém. Do jeito que ele tratava o mais sábio ele tratava uma criança.
O Mestre viveu com uma mulher, D. Raimunda, durante vinte anos. Depois casou-se com ela, pois, como líder de uma comunidade, ele tinha que dar o exemplo. A mãe dela era pessoa difícil de se lidar. Em março de 1955 ela foi embora para São Paulo com a mãe, onde veio a falecer, ao que parece, atropelada.
Antes de D. Raimunda o Mestre viveu com uma outra mulher, isso no tempo que ele trabalhava na seringa. Tiveram um filho, o Valcírio, que vive aqui em Rio Branco. Toma Daime também.
Dona Peregrina chegou muito depois. Ela é neta do Antônio Gomes. Nesse tempo ela ainda era criança. Ela se casou com o Mestre em setembro de 1955. Foi antes da viagem do Mestre ao Maranhão.
O Mestre aconselhou não se tomar Daime feito por todo mundo. Só dos que ele ensinou e sabia que faziam direitinho. Loredo, Cipriano e o Granjeiro, depois seu Sebastião Mota, aprenderam a fazer o Daime com o Mestre.
No tempo do Mestre, cada domingo tinha hinário na casa de um dos membros da comunidade. Começava na casa mais próxima da sede e ia circulando até terminar na sede de novo. Todo domingo, das duas às quatro. Era chamado o "hinário rondante". Se não desse para terminar o hinário num domingo, ficava para a semana seguinte.
Sobre as divisões que houve entre seus discípulos, lembro-me dele dizer: - Eu confio em Deus que a minha Doutrina há de ser reconhecida no mundo inteiro. Você acha que o mundo inteiro ia caber dentro da sede de Dona Peregrina? Eu não digo o mundo inteiro. Se for só os acreanos, não cabe. Com a Igreja Católica aconteceu o mesmo. Todo mundo adora a Deus e respeita Jesus Cristo, mas cada um segue o seu caminho.
Teve que dividir para poder expandir. Eu não acho que seja errado não. Deus é bom... No penúltimo hino do Cruzeiro o Mestre diz: "Os pedidos foram tantos / Me mandaram eu voltar". Isso foi pouco antes de sua passagem. Nessa época houve um pedido da irmandade para que o Mestre ficasse. Nós perguntamos e ele chegou a contar: - Eu não sinto dor. Eu não sinto fome. Eu não sinto nada. O que eu sinto é não ter para quem entregar o meu trabalho. E saudades de vocês. Eu sinto uma saudade tão grande de vocês que é isto que está me abatendo. Ele, com certeza estava sabendo de sua passagem e sabia que a maior parte não estava preparada. E não era por falta de ensino. Todos sabiam que, quando precisassem de algo, era só correr e perguntar ao Mestre. Todos achavam que nunca haveriam de ficar sem ele. Ele foi se abatendo, se abatendo... já não mais comia carne. Disse que o organismo dele não mais aceitava essas coisas. E a gente vendo ele se abater.
Perto do dia 30 de junho de 1971 perguntei para ele: - O senhor não gostaria de uma Concentração para melhorar sua saúde? - É bom! Então vamos fazer. Chame o pessoal mais próximo. Mas, dias antes dessa Concentração, ele já tinha chamado o Leôncio Gomes e entregado a direção dos trabalhos: - Leôncio, você vai tomar a direção dos trabalhos. Você não vai ser chefe. A chefia é comigo mesmo. Mas fique aí para receber as pessoas, para ensinar a Doutrina e tudo bem. Escute o que estou dizendo, não faça mais do que eu estou lhe entregando. Porque, se alterar alguma coisa, você não vai resistir.
No dia 30 nos reunimos para a Concentração. Quando terminou, ele perguntou para o povo: - Quem foi que viu o meu enterro? As pessoas disseram que não tinham visto nada. E ele falou que tinha recebido um remédio e que ia ficar bom. - E que remédio é esse, Mestre? - É um remédio que tem em todo canto, continuou. Eu cheguei num salão onde tinha uma mesa ornada, toda composta, com as cadeiras em seu lugar. Só tinha uma cadeira vazia: a da cabeceira. Foi aí que a Virgem Soberana Mãe chegou ao lado dele e disse: - De hoje em diante, você é o chefe geral desta missão. Depois de 50 anos de trabalho é que ele foi receber o comando. - Você é o chefe. No céu, na terra e no mar.
Para todos os efeitos. Todo aquele que se lembrar de você e chamar por você, de coração, e confiar, receberá a luz. Isso foi no dia 30 de junho de 1971. No dia 06 de julho, ele foi embora. E a história do remédio é a terra, que se pisa em cima. Ele não foi para debaixo da terra? E ninguém entendeu. Ele não disse que tem em todo canto? É a própria terra... Outro pai ninguém encontra.
Por volta de 1970, antes de adoecer, o Mestre teve uma miração em que ele chegou num lugar onde havia muita gente, e a Protetora sempre a seu lado:
- Você está vendo esse movimento todo?
- Tô vendo.
- Pois é, tudo isso aí é mestre. Eles dizem que são mestres. Você quer ver? Pergunta pra eles.
E ele perguntou pra um, pra outro.
Cada um respondia: "Eu aprendi com o finado sicrano". "Eu aprendi com outro finado".
E a conversa era assim.
E agora ela disse: -
Fala para eles com quem foi que tu aprendeu.
Ele levantou e disse: - Pois eu aprendi com a Virgem Soberana Mãe.
Aí desapareceram todos os mestres. - Você está vendo? Nenhum deles aprendeu coisa nenhuma. Ele aprendeu porque foi ordenado.
É como se diz: foi escolhido. A Virgem Soberana Mãe lhe acompanhou o tempo todo. E ainda hoje acompanha. E ele está ao lado dela. Todo dia quando eu saía daqui, ia lá. E, se não fosse, ele reclamava.
Nesse dia eu fui. Ele estava alegre, alegre. Parecia não estar sentindo coisa nenhuma. Conversava e contava história. Fiquei um tempo por lá e disse que ia voltar para casa para fazer o almoço. Ele disse: - Você não vai não. Você tá com fome?, e chamou a menina para botar o almoço na mesa. Você não vai agora não. Quero conversar com você. Ele estava na maior alegria, contando tudo!
Eu pensei: "Graças a Deus! Ele está bom!", e disse para ele:
- Amanhã eu vou à rua, pois vou receber. - Vá. Pode ir. Quando deu três horas da tarde, ele disse: - Se você quer ir pra casa agora, pode ir. Aí eu tomei a bênção e ele fez uma recomendação como nunca tinha feito antes. Não entendi nada.
Eu o vi tão alegre que não suspeitei de coisa alguma. Ele me recomendou que eu fosse muito feliz. Saí tranqüila e satisfeita. Ele era como meu pai, pois foi quem me criou. De tarde, eu saí com Pedro. Fomos ao departamento de Finanças e lá, um amigo nosso, o João Lopes, perguntou sobre o Mestre. Ele era assessor do governador Wanderley Dantas e se dava muito com a gente. Tomava Daime também. Respondi que o Mestre estava bem. Ele disse que o governador estava querendo visitar o Mestre, mas estava sem tempo. Saímos e quando chegamos em frente ao palácio, encontramos a esposa do seu Doca.
Ela vinha amarela, com os cabelos assanhados. Foi logo dizendo: - O Mestre, meu Deus ! O Mestre morreu! - Menina, que conversa é essa? Mas Deus me deu um conforto naquela hora e eu não acreditei. Pensei que ele pudesse ter tido uma agonia, um mal estar...
- Mas não! Eu saí de lá e ele estava bem. Ele não pode ter morrido! - Mas é verdade. O filho do seu Wilson acabou de chegar de lá. Mas eu não queria acreditar. Desistimos de fazer as compras e passamos em frente ao mercado. Lá estava o maior burburinho, gente se movimentando, arrumando um carro para ir até a colônia. Pegamos um carro também. Parecia uma procissão. A notícia tinha se espalhado. Mas eu não acreditava, "Será que é verdade?" Passei em casa rapidamente e fomos para lá. Só acreditei quando cheguei. Ele ainda estava na cama. O suor derramando como se estivesse trabalhando muito. Ninguém pense que aprendeu. Quem quiser aprender, se dedique ao Daime. Se prepare e tome.
Não vou dizer que todos possam alcançar porque "nem todos estão na graça", como diz aquele hino do Seu Sebastião Mota. O Mestre aprendeu e doutrinou o mundo inteiro. Por isso eu digo: todos têm vontade de alcançar, mas nem todos estão na graça... É preciso se conformar com o tanto que Deus lhe deu. Aqueles que tiverem o espírito evoluído de outras encarnações estão mais próximos. Se dedique ao Daime, que lá ele está. Chame o Mestre com amor.
Espiritualmente, o Mestre é uma santidade que comanda o mundo inteiro. Ele tem todo poder. E hoje, 21 anos depois, é a mesma coisa. É como se ele estivesse aqui no nosso meio. Não que eu esteja vendo, mas, pela intuição, a gente sente. "O Prensor" é sobre a Guerra do Paraguai. O Mestre mirou e viu a passagem da guerra dos dois países. Ele se achou no meio da batalha. "A virgem mãe é soberana" é sobre a passagem do meu irmão João Ribeiro. "Só eu cantei na barra" é sobre a passagem de Antônio Gomes.
Ele estava muito doente. O hino fala: "A morte é muito simples / Assim eu vou te dizer / Eu comparo a morte / É igualmente ao nascer". Quando eu ouvi o hino percebi que não tinha mais jeito. A receita, como disse o Mestre, é a terra. "Choro muito" é sobre a passagem de Maria Damião.
Ninguém sabia que ela estava doente. Com três dias que saiu esse hino chegou a notícia que ela estava agonizando. Ela adoeceu repentinamente e morreu. Tinha 32 anos. É sobre a sua passagem que o hino fala. Entre "Sou filho do poder" e "Dou viva a Deus nas alturas" houve um intervalo, uma pausa de alguns anos. O Mestre recebeu os hinos derradeiros (hinos novos ou cruzeirinho), direto; um atrás do outro. "Pisei na terra fria" ele recebeu no final de 70, no mês de dezembro, depois do aniversário dele. No dia 17 ou 18. Ele sempre me chamou de Dona Percília, desde pequena.
Um dia papai perguntou para ele: "Mas por que o senhor chama uma criança dessas de dona?" Ele respondeu: "Eu chamo para me acostumar, porque quando ela casar, eu não sei se o marido dela vai gostar se eu chamar ela de Percília." Meu maior prazer é ver esse trabalho ficar firme, direitinho, como o Mestre quer, não como ele queria, como ele quer, pois eu não considero que o Mestre está ausente. Tudo que nós fizermos dentro desse trabalho tem que ser com ele, tem de pedir licença a ele, porque ele é o dono, ele é o comandante e o chefe geral da missão. Portanto tem que render obediência a ele. Eu não permito é cada um fazendo do seu modo. Foi uma das coisas que ele pediu. No dia 30 de junho de 1971, poucos dias antes do seu passamento, houve uma concentração em benefício dele.
Quando terminou, ele disse assim: - Hoje foi que eu recebi a minha cadeira de presidente; cheguei lá no astral, tinha um salão, a mesa posta, e a cadeira da cabeceira estava vazia, a minha mãe chegou e mandou que eu tomasse conta da cadeira. -
De hoje em diante, você é o chefe geral desta missão, disse ela. Queira ou não queira, no céu, na terra e no mar, o chefe é você. Ora, isso depois de quantos e quantos anos de trabalho? E ele disse: - Eu estou entregando esse trabalho ao Leôncio; ele não é o chefe, fica como representante desse trabalho. Agora uma coisa eu digo, ninguém queira ser chefe, se unam e vão trabalhar. Foi nesse dia que ele aprendeu que quando se formar a mesa para abrir um trabalho, é para deixar a cadeira dele vazia, pois chamando, ele viria ensinar. - Mas ninguém queira ser chefe, e não inventem moda dentro desse trabalho, ele falou. Por isso eu me sinto mal quando eu chego num serviço que não está certo.
Eu não me sinto bem de jeito nenhum. Se eu pudesse fazer uma circular a todos esses centros de Daime eu diria: nós não podemos mudar o ritual, nós temos de seguir os ensinos conforme eles mandam. Outro dia eu fui em um trabalho em um centro aqui perto de Rio Branco e não gostei. Já fui mesmo a paisana, porque eu não sabia como estava a organização lá, parece que eu estava adivinhando. As filas desarrumadas, sem um destacamento que fosse responsável pela organização das filas, homens com a camisa para fora da calça, com a mão no bolso, outros com o braço solto, jogando o braço para lá e para cá, e o que é pior: a extinção do maracá. O maracá é que ajuda a marcar o passo do baile. Todo mundo com caderno na mão, nunca vi isso, alguns tocando maracá para cima, sem bater na mão. E o caderno - se estivessem ao menos lendo e cantando, mas tinha muitos que só olhavam e ficavam de boca fechada. Tá fora do ritmo, não é mesmo? E o ritmo do canto, da música? Cada hora era de um jeito, ora acelerando, ora devagar demais, e o ritmo deve ser incessante, firme. Eu perguntei o por quê do pessoal não usar o maracá, me disseram:
"Ah! Porque eles não têm." "Mas o maracá é uma coisa muito fácil de fazer, todo mundo pode ter." "Ah! Mas eles não aprendem." Por que não aprendem? Ora, a criança vai a aula, no começo ela não sabe, depois vai aprendendo, uma semana, duas, faz o primeiro grau, faz o segundo, vai se evoluindo, segue carreira. Então, por que não aprende? Por que não tem um instrutor, uma pessoa que instrua, que ensine como é. Agora deixar cada um chegar e fazer como quiser, não pode. Então, se ele deixou para todo mundo usar o maracá, é para usar maracá, não é? Não é caderno, ele não deixou ninguém usando caderno. Até a saída dele, não existia esse negócio de caderno na mão no hinário, de jeito nenhum, todo mundo aprendia corretamente e na hora já sabia, estudava em casa, mas na hora do trabalho, ninguém levava caderno. Como eu não faço parte da diretoria de lá, não falei nada, mas essa responsabilidade pesa nos meus ombros, pois o Mestre me disse: "Onde você for que não estiver certo, você tem que corrigir."
No hinário, cada fila tem de ter o "pelotão", a pessoa responsável pela fila. Quando às vezes uma pessoa passa mal, por um momento, por causa das suas culpas, sei lá, tem que ter o fiscal para amparar, homem para homens, mulher para mulheres. O fardado só tem direito de sair por três hinos, no máximo. O ensaio é muito importante, pois é ali que a pessoa vai aprender, para quando chegar o trabalho oficial, todos estarem sabendo. Nosso trabalho é como um quartel, todos iguais. O principal na atitude do fardado é a obediência, cada um prestar o seu serviço com o máximo de obediência, cada um tem a sua posição, o seu posto de serviço, portanto, tem de assumir com muita dedicação e obediência.
Tem muita coisa boa dentro desse hinário do Cruzeiro, é preciso é compreender, muitas pessoas cantam, mas a compreensão fica tão adversa... E não tem esse negócio de mistura de linha não, de atuação, nunca vi o Mestre se alterando em nada. Os trabalhos de cura são sempre nas quartas-feiras, a não ser caso de urgência, e é só concentração, não se cantam hinos. No trabalho tem que ter três, cinco, sete, ou nove pessoas. De acordo com o nosso ritual, a cadeira da cabeceira da mesa fica vazia; dentro da concentração, chame o Mestre para aquele lugar. Nós não podemos se exaltar em canto nenhum, porque somos espiritualistas, eu não sou mais do que ninguém, o próprio Mestre não dizia: Eu sou o curador. Chegava gente se queixando, ele falava: "Bem, eu vou ver o que posso fazer por você, vou consultar a minha mãe
- a Rainha, se ela consentir, você poderá ficar melhor, receber sua saúde." Dentro desse trabalho só não se cura é sentença, porque a sentença já vem de Deus. Tem doenças, tipos de sofrimento, que não tem cura, a pessoa tem de passar. Mas fora disso, tudo tem cura, dentro da obediência que todos devemos ter a Deus, nosso criador. Agora, a maior perda dentro desse trabalho é a pessoa se exaltar. O trabalho de cruzes é para quando a pessoa está perturbada, a gente vê que não é ela, é um outro que chegou ali e está perturbando. Então se faz o trabalho com no mínimo três pessoas, incluindo o doente, começando sempre na quarta-feira. É necessário três trabalhos, continua na quinta e na sexta; se o caso for muito pesado, nove. Ou às seis da manhã, ou às seis da tarde, pois o sol é o nosso guia.
O primeiro hinário foi em 23 de junho de 1935, na casa de Damião Marques, marido de Maria Damião. A noite toda cantamos nove hinos, dois do Germano, dois do João Pereira e cinco do Cruzeiro, pois era o que tinha. Cantávamos cada hino três vezes, depois voltava tudo de novo. Às 23 horas houve um intervalo, cantamos a Refeição diante de uma mesa completa. Depois voltamos e amanhecemos o dia, com nove hinos apenas. Lua Branca foi recebida no Peru. O trabalho de cura surgiu em 1931, eram concentrações, às quartas-feiras. O Mestre trabalhava em benefício daquela pessoa, ou daquelas pessoas necessitadas, presente ou ausente, todo mundo concentrado. Naquela época, tinha os chamados de cura. Então, ele, silenciosamente, fazia aqueles chamados. Então, ali mesmo, dentro da concentração, ele recebia como podia ser a cura daquela pessoa.